Querido Diário | Expedição no Navio Polar Almirante Maximiano!

Nesta página será transportado para a emocionante expedição a bordo do navio Polar Almirante Maximiano.

Acompanhe de perto o diário de bordo dos intrépidos cientistas do MARE, Afonso Ferreira e Graça Sofia Limeira, durante as missões de investigação dos projetos polares da campanha PROPOLAR 2024-2025.

Maravilhe-se com as descobertas, desafios e momentos inesquecíveis desta jornada no coração das águas geladas!

 

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21/02/2025

O nosso último diário

Rio Grande, Brasil
Querido diário de campanha, após uma longa expedição, estamos de volta a terras mais quentes, nomeadamente ao Brasil.
No último mês, trabalhámos muito. Realizámos 47 estações oceanográficas, filtrámos mais de 600 L de água e recolhemos cerca de 500 amostras para podermos continuar a estudar o fitoplâncton da Península Antártica. Finalizados os trabalhos, despedimo-nos do nosso laboratório, arrumando todo o equipamento e material utilizado para um próximo embarque. Porém, a vida a bordo do navio não só se fez de trabalho, mas também de muito companheirismo e de momentos para recordar, inclusive o “1º torneio antártico de Ping Pong” a bordo do Navio Polar Almirante Maximiano.

Fotografia da equipa de investigadores embarcada no Navio Polar Almirante Maximiano.

Ainda antes de embarcarmos no voo militar que nos traria de volta a Rio Grande, tivemos ainda a oportunidade de explorar a pequena, mas muito característica cidade de Punta Arenas, na região da Patagónia Chilena. Conhecida por ser um ponto de conexão com o continente antártico devido à sua localização ímpar, esta paragem permitiu-nos conhecer um pouco do papel importante que Punta Arenas tem para a ciência polar.

Fotos do Museu de História Natural do Punta Arenas

Finalizada a expedição, voltaremos a Portugal com a sensação de dever cumprido, não esquecendo, claro, que ainda há muito trabalho para fazer no laboratório com as amostras recolhidas. No entanto, isso é uma questão para a Sofia e o Afonso do futuro. Por agora, o nosso objetivo é regressar a Portugal e voltar às nossas rotinas do dia-a-dia.

Partida de Punta Arenas para o Brasil, a bordo do voo militar da Força Aérea Brasileira (FAB).

Até ao próximo embarque!

 

 

07/02/2025

 

Entre Icebergs e Estações - Estreito de Bransfield

Querido diário de campanha, os dias de trabalho têm sido longos e árduos, mas os nossos turnos de 12 horas têm sido repletos de paisagens e de muita ciência. Entre icebergs, baleias e pinguins, temos também realizado muitas estações oceanográficas (i.e., pontos de recolha e de análise de águas do mar) ao longo da Península Antártica.

 

              

Em cada uma destas estações, é possível observar como a abundância de fitoplâncton, a temperatura, a salinidade e o oxigénio variam desde a superfície ao fundo. Em termos de fitoplâncton, temos observado uma grande diversidade não só na sua abundância, mas também na sua composição taxonómica. Um grupo de fitoplâncton que se tem destacado nas nossas observações é as diatomáceas, o grupo de fitoplâncton mais abundante nesta região e que apresenta um papel fundamental para o ecossistema antártica. 

   

Ontem, realizámos uma das estações mais profundas desta expedição: cerca de 2000 metros de profundidade. Para comemorar este momento, como já é tradição nestas campanhas antárticas, toda a equipa científica a bordo prepara um conjunto de copos de esferovite decorados ou personalizados que irá ser descido até às profundezas do mar. Devido à elevada pressão que se verifica no fundo, os copos regressaram comprimidos, ou seja, em um tamanho muito inferior ao original. Estes copos são depois guardados como recordação deste momento marcante da expedição.

 

Por hoje, é tudo. Chegámos agora a uma estação e o dever chama. Até à próxima!

 

Figuras

Esquerda: Mapa com as estações oceanográficas e percurso assinalados.
Centro: Sistema CTD-Rosette (amostragens de águas em profundidade) e imagem ao microscópio de uma espécie de diatomácea presente em uma das estações (Corethron sp.)
Direita: Copos de esferovite personalizados antes (em cima) e depois (em baixo) após a sua incursão até aos quase 2000 metros de profundidade.

 

 

 

02/02/2025

Chegada a Antártida

Querido diário de campanha, após uma passagem calma pelo estreito de Drake, chegámos à Antártida.

Durante o estreito de Drake, ainda tivemos a oportunidade de recolher algumas amostras, para identificação e contagens de cocolitóforos (nanofitoplâncton calcário). Estes são organismos-chave para o ciclo do carbono, sendo um dos principais exportadores de carbono atmosférico do oceano. Embora sejam um grupo típico de águas mais quentes, tem-se vindo a verificar uma expansão, associada ao aquecimento dos oceanos, da sua distribuição em direção às altas latitudes. Assim, é também nosso objetivo perceber se estes organismos estão a ocorrer mais frequentemente em águas antárticas, onde antes eram inexistentes.
Com a nossa chegada à Antártida, tivemos a possibilidade de passar pela base antártica brasileira (Estação Antártica Comandante Ferraz) e foi uma experiência única, pois tivemos a oportunidade de pisar em solo antártico e visitar uma base antártica. Conhecemos diferentes cientistas e os seus trabalhos na estação e pudemos ver e comparar as principais diferenças entre a vida a bordo de um navio de investigação e a vida em uma base.

Depois disso começamos a realizar as amostragens nos diferentes locais pretendidos. A primeira recolha de dados foi algo engraçada. Os experientes estavam a tentar lembrar-se de como as coisas se faziam e os mais novos estavam a tentar absorver tudo o que estava a acontecer. Agora já todos sabem: Quando a roseta sobe podemos recolher água das diferentes profundidades pretendidas e começar as análises.


  

28/01/2025

Primeiro dia completo a bordo
Canais Chilenos
Querido diário de campanha, esta longa viagem começou com um voo comercial de 6 horas de Lisboa (Portugal) até São Paulo (Brasil). Após a nossa chegada ao Brasil, ainda tivemos de andar em um voo comercial, dois autocarros e um voo militar da Força Aérea Brasileira (FAB) até que chegámos ao Chile. Finalmente, no dia 24 de janeiro, podemos conhecer a nossa casa e local de trabalho para esta expedição: o navio Polar Almirante Maximiano!
 
O nosso primeiro dia a bordo, 25 de janeiro, foi um dia atarefado. Começámos o nosso trabalho por organizar o nosso laboratório, aka "Laboratório do ROV". Preparar um laboratório num navio é algo diferente do normal, uma vez que é preciso muita atenção onde colocar os equipamentos e prender tudo muito bem, principalmente quando o mar fica "bravo". Nestes momentos, contamos com o apoio de um grupo de cerca de 20 cientistas brasileiros pertencentes aos projetos ImpactANT e PRO-SAMBA, que nos acompanharam durante toda a expedição.
 
Estamos agora a caminho da Antártida para continuar a estudar o fitoplâncton nesta região tão importante. Para isso vamos recolher amostras de água para a determinação e quantificação de pigmentos a várias profundidades ao longo da coluna de água. Os pigmentos permitem caracterizar o estado das comunidades de fitoplâncton, mas também nos dão a possibilidade, pela quimiotaxonomia, de identificar os principais grupos de fitoplâncton. A identificação será validada através da recolha, em simultâneo, de amostras de espécies fitoplanctónicas para serem futuramente analisadas ao microscópio.
A informação obtida in-situ será utilizada para validar e complementar dados obtidos a partir de satélites de cor do oceano, que também permitem estudar o fitoplâncton a uma escala espácio-temporal maior. Neste âmbito, um dos focos do PHYTO-SHIFT é a validação de observações do novo satélite da NASA, o PACE (Plankton, Aerosol, Cloud, ocean Ecosystem), cuja principal vantagem é a aquisição de dados radiométricos com uma resolução espetral sem precedentes. Isto irá permitir estudar as comunidades de fitoplâncton com mais detalhe.
 
Por agora é isto! Para já, estamos nos Canais Chilenos. Trazemos atualizações depois na nossa passagem pelo estreito de Drake e quando já estivermos em águas antárticas. Boas navegações e até mais!
 
 
 
Figuras,
Cima: Foto de grupo dos cientistas que vão embarcar na expedição, no âmbito dos projetos PHYTO-SHIFT, ImpactANT e PRO-SAMBA).
Baixo Esquerda: Momentos da preparação do laboratório em que se realizarão as amostras para estudar o fitoplâncton.
Baixo Direita: A nossa localização atual, em plenos Canais Chilenos e rumo à Antártida.