No dia mundial para Consciencialização sobre Tubarões e Raias*, o projeto FindRayShark, coordenado pelo MARE e financiado pela 1a edição do Fundo para a Conservação dos Oceanos, do Oceanário de Lisboa e da Fundação Oceano Azul, lança um guia de boas práticas para a conservação das raias e dos tubarões.
Durante os verões de 2020 e 2021, observaram-se ao longo da costa portuguesa várias ocorrências de tubarões nas praias, tendo levado inclusivamente ao fecho temporário de praias como a praia do Barril no Algarve e algumas praias da da Figueira da Foz. Estas interdições decorreram da falta de experiência tanto dos banhistas como das autoridades em lidar com estas espécies que habitam a costa portuguesa, uma vez que estas não representam, à partida, qualquer perigo para as pessoas, desde que seguidos alguns procedimentos de segurança.
O projeto FindRayShark coordenado pelo Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE), financiado pelo Fundo para a Conservação dos Oceanos do Oceanário de Lisboa e Fundação Oceano Azul, tem como um dos principais objetivos sensibilizar para a conservação destas espécies altamente vulneráveis e essenciais para a saúde do Oceano, de forma a que todos estejam mais informados para agir com tranquilidade na presença de tubarões e raias em diferentes situações, tais como avistamentos no mar, arrojamentos nas praias ou a sua libertação após a captura acidental.
A equipa do projeto lança dia 14 de Julho - Dia Mundial para a Consciencialização sobre Tubarões e Raias - um guia de boas práticas a adotar em encontros com estas espécies, intitulado “Encontrei um tubarão, e agora? Guia de Boas Práticas para a Conservação de Raias e Tubarões”. O guia conta com um conjunto de medidas de boas práticas para resposta a interações diretas com com estes animais, essenciais para a sua proteção e para a segurança das pessoas, incluindo ainda um conjunto de ações que todos podemos implementar no dia a dia para contribuir para a conservação destas espécies vitais para a saúde do Oceano. Aborda ainda hábitos de consumo de carne de raia e de tubarão em pratos como a sopa de cação ou a raia alhada, uma vez que Portugal é o 2o maior exportador de carne de tubarão e o 6o maior importador de carne de raia a nível mundial.
Catarina Abril, co-autora do guia, afirma que “mesmo aqueles que não interagem com o meio marinho diretamente podem fazer a diferença. A simples atenção redobrada nos produtos cosméticos que usamos, que podem conter esqualeno extraído do fígado de tubarões de profundidade, ou a recusa do consumo de sopa de barbatana de tubarão têm um impacto significativo na conservação destas espécies.”
Das mais de 600 espécies de tubarão e 500 espécies de raia que habitam o vasto oceano, cerca de 117 existem e cruzam águas portuguesas. Pelas suas características morfológicas (esqueletos constituídos de cartilagem, espinhos e espigões, entre outras), os tubarões e raias necessitam de um cuidado acrescido no seu manuseamento para que possam ser devolvidos ao mar em segurança. O guia surge acompanhado de pequenos vídeos ilustrativos das melhores práticas de interação com estas espécies, tendo o vídeo final sido lançado hoje, na página do projeto FindRayShark.
Sofia Henriques, coordenadora do projeto FindRayShark, reitera a importância deste guia para o envolvimento da comunidade, uma vez que todos dependemos do bom funcionamento do Oceano, sendo que os pescadores podem ainda ter um papel fundamental como “verdadeiros campeões na conservação das raias e dos tubarões”. Relembra ainda que a equipa FindRayShark contou sempre com o apoio dos pescadores das Berlengas em todas as fases do projecto, a quem devem parte da inspiração para a realização deste guia.
As boas práticas são um primeiro passo crucial para a proteção destas espécies, mas é imperativo que as raias e os tubarões se tornem uma prioridade na agenda política sobre conservação ambiental tanto a nível português como europeu. A aprovação na Assembleia da República do Projeto de Resolução 1448/XIV/3 para a criação de um Plano de Ação para a Conservação dos Tubarões e Raias nas águas portuguesas, em 2021, deve ser agilizada rapidamente e baseada em informação científica. No rescaldo da Conferência do Oceano da ONU, que decorreu no mês passado em Lisboa, é agora o momento de Portugal ter um papel ativo na proteção destas espécies vulneráveis, que tão importantes são para a saúde dos Oceanos, da qual todos nós dependemos.