Investigadores do MARE no “World’s Top 2% Scientists list”

É o último dia do ano e o que nos vem à mente – “Cumprimos os nossos objetivos?”

Há quatro investigadores do MARE que têm cumprido objetivos interessantes - estão entre os mais influentes do mundo, segundo a Elsevier. Bernardo Duarte, Leonel Pereira, Manuel Graça e Rui Rosa foram os quatro nomes mencionados no estudo que saiu recentemente, September 2022 data-update for 'Updated science-wide author databases of standardized citation indicators, que corresponde aos cientistas mais citados a nível mundial em 2021.

A ciência é o que os move a todos, mas são diferentes as áreas que estudam. Há um especialista em ecologia, um ficologista, um limnólogo, e o investigador das alterações climáticas. Cada um é diferente, mas têm algo em comum – a paixão pelo seu trabalho que os fez chegar a este nível.

 

O que estudam estes investigadores?

“Quando abrimos um livro de ecologia encontramos imagens de pirâmides ecológicas. Estas pirâmides não estão erradas, mas de alguma forma incompletas, uma vez que 90% do material que as plantas produzem nunca vai ser consumido pelos herbívoros, acabando por cair no que se chama o puro de material orgânico, matéria orgânica morta. E, hoje em dia, pensa-se que cerca de 70% do carbono que flui nos ecossistemas circula por estas redes alimentares de detritívoros. E, se nesta época do ano passearmos pelos bosques, vamos ver uma camada grossa de folhas acumuladas no chão, e se formos aos pequenos ribeiros isso é ainda mais evidente”, começa por explicar o investigador do MARE Manuel Graça que trabalha nos pequenos ribeiros em que a principal fonte de energia são os detritos orgânicos.

“No meu jardim as folhas são lixo, mas nos rios as folhas são energia que vai ser consumida pelos seres aquáticos que vivem nos rios”, e é assim que vai explicando a importância do seu trabalho e a questão por exemplo dos rios secos. Se secam como se processa a decomposição de material orgânico? O investigador e a sua equipa estudam as espécies, mas especialmente os fungos a colonizar as folhas, querem saber que proporção da energia que está contida nos detritos orgânicos é utilizada pelos invertebrados e que proporção é usada pelos fungos e se o facto do rio deixar de ter água determina a decomposição.

Já Bernardo Duarte desenvolve o seu trabalho em Ecotoxicologia. Nesta área pretende avaliar os efeitos nefastos dos contaminantes, nomeadamente de contaminantes emergentes, como cosméticos, resíduos farmacêuticos, biocidas e nanoparticulas metálicas, em organismos marinhos, principalmente organismos fotossintéticos. Tudo isto no projeto BIOTOX - Laboratório de Biomonitorização e Ecotoxicologia.

Leonel Pereira começa por expor a sua opinião enquanto investigador: “sempre pensei que era mais importante prevenir as doenças do que curá-las”. Por isso desenvolve com a sua equipa nutracêuticos, que são compostos bioativos que podem ser usados para suprir as necessidades do organismo. E tudo isto desenvolve a partir de algas, que têm a vindo a surpreender pela quantidade de utilizações que têm.

E o tema que tem sido evidenciado na agenda política - as alterações climáticas. São uma das maiores ameaças ambientais que o nosso planeta enfrenta, com grandes repercussões ao nível social e económico. Por isso o investigador do MARE Rui Rosa, juntamente com o seu grupo de investigação, procura compreender de que forma as alterações climáticas estão a afetar o meio marinho, em diferentes níveis de organização biológica - desde as células até aos ecossistemas - usando uma abordagem integrativa e multidisciplinar.

 

Como receberam os investigadores esta menção?

“Admito que fiquei contente de saber. Pelos vistos o trabalho faz-se notar e dá satisfação. Mas não devemos sobrevalorizar. Há muitos outros autores que fazem trabalho de excelente qualidade” considera Manuel Graça, que conclui que o fruto do trabalho que faz com toda a dedicação é o próprio ranking.

Já Leonel Pereira considera que “para ter objetivos na nossa carreira, temos de ir atingindo determinadas etapas e ver estes rankings internacionais, que dizem que chegamos ao tal milestone é a maneira de ter vontade de continuar a fazer e a trabalhar”. O investigador conta que um dos efeitos desta menção foi o contacto das pessoas a parabeniza-lo. E agradece a toda a equipa - alunos de doutoramento, mestrado ou licenciatura, o mérito é de todos. Pelo que o conselho que deixa é: trabalhar em equipa, fazendo o que se gosta com esforço e dedicação.

Já o investigador Manuel Graça aconselha por passos: “Primeiro, para quem começa a trabalhar, deve conhecer muito bem a teoria. Deve reconhecer as questões relevantes que devem ser colocadas e desenhar bem o trabalho experimental para responder às perguntas. E publicar. Quando não publicam não existe. Se temos os contribuintes a pagar o nosso ordenado e o funcionamento das instituições, temos de demostrar o fruto do nosso trabalho. E dar a conhecer o que estamos a fazer”. “Em segundo lugar devemos ser originais e não devemos trabalhar só numa escala local. A minha pergunta não deve ser quanto material orgânico é que este pequeno ribeiro aqui tem? Mas que quantidade de energia é que chega aos ribeiros?”. Em terceiro “não tentar fazer trabalho sozinho, mas em colaboração. Devemos ser promíscuos em ciência no sentido de não nos fecharmos só com trabalhadores locais, mas interagir com muitas pessoas, em várias partes do mundo e escolher para colaboradores não pessoas que façam o mesmo e que tenham a mesma maneira de pensar, mas pessoas com conhecimentos complementares que permite discussão”. Por último “Não esconder informação – laboratório aberto a quem possa vir. Refiro-me também aos conhecimentos gerados, que devemos partilhar para colaborar com outros investigadores. É o que mantem a ciência ativa”.

Fazer investigação num país como Portugal (com problemas crónicos de subfinanciamento na ciência) não é fácil, mas “quem corre por gosto, não cansa”, conclui Rui Rosa.

 

O que nos vem à mente agora? A parte boa é que com o final de um ano “velho”, vem outro novinho em folha. Já podemos traçar novos objetivos para 2023 e cumpri-los!