Poderão as sardinhas ibéricas adaptar-se às alterações climáticas?

A sardinha está na ribalta e já não é de hoje. O estado é grave. Haverá, agora, uma “boa nova”? A equipa do projeto SardiTemp, liderado pelo MARE-ISPA, revelou que a sardinha ibérica poderá ser capaz de se adaptar às alterações climáticas, apesar de que a subida da temperatura do mar poderá, ainda assim, levar a uma migração desta espécie para norte.

 

“Devido ao aumento da temperatura da água, o que se espera é que as sardinhas acelerem o metabolismo e consequentemente o consumo de oxigénio. Decidimos analisar o ADN de genes envolvidos na produção de energia para ver se encontrávamos alguma ligação”, explica Miguel Baltazar-Soares, autor principal do artigo publicado na revista Genes no início deste mês. “Descobrimos que a variação a nível molecular encontrada entre amostras analisadas à volta da Península Ibérica é explicada por uma relação com a temperatura mínima da água do mar e do oxigénio dissolvido na mesma”, conclui.

 

Há a possibilidade, portanto, de um mecanismo de adaptação, mas este pode dever-se igualmente, segundo o investigador Gonçalo Silva, líder do projeto SardiTemp, a “eventos de afloramento, frequentes na costa portuguesa” – ventos de norte que geram uma corrente oceânica direcionada para ocidente, afastando da costa as águas superficiais e promovendo a ascensão de águas frias mais profundas.

 

Estima-se que o aumento global da temperatura média da água do mar previsto até ao final do século tenha múltiplos impactos na biodiversidade, dinâmica e distribuição dos diferentes recursos marinhos, e por consequência na economia e sobrevivência das populações costeiras – que é justamente o caso da sardinha ibérica. Por isso é “importante percebermos o potencial adaptativo da sardinha de modo a fazer face às alterações climáticas. Os seus stocks têm sido explorados intensivamente nas últimas décadas e, mais recentemente, têm estado abaixo do limite sustentável de captura”, declara Baltazar-Soares.

 

E porque o estudo é o caminho, o investigador do MARE conclui, positivamente: “Têm sido encontradas assinaturas moleculares de diversas adaptações noutras espécies de pequenos peixes pelágicos (que vivem na coluna de água, como a sardinha): temos o caso do biqueirão, do arenque ou até mesmo em sardinhas de outras espécies, noutras latitudes. Ao compreendermos melhor os mecanismos de adaptação às alterações climáticas conseguimos estar mais perto de prever os impactos que estas terão na distribuição dos recursos marinhos, e assim, contribuirmos para uma melhor gestão desses mesmos recursos”.