Ainda há solução para os peixes do Vouga?

A interrupção da continuidade fluvial na bacia hidrográfica do Vouga urge solução. Com o objetivo de eliminar ou mitigar pressões hidromorfológicas que impedem os peixes de passar, o projeto LIFE ÁGUEDA avançou com os trabalhos de remoção de obstáculos aos movimentos piscícolas nos rios Águeda e Alfusqueiro.

O projeto, coordenado pelo investigador do MARE Pedro Raposo de Almeida, irá restabelecer a conetividade longitudinal em cerca de 34 km na bacia hidrográfica do Vouga, estando previstas intervenções em 13 obstáculos. Entre os dias três e quatro de março foram removidos os dois açudes de maior dimensão na área de intervenção do projeto, um no rio Alfusqueiro, com cerca de três metros de altura desde o leito do rio, e o outro no rio Águeda, com uma altura aproximada de um metro.

"As intervenções para remoção dos dois açudes decorreram sem problemas, conforme planeado. A primeira remoção, de maior envergadura, no dia três, foi a mais demorada. Tratava-se de uma estrutura em pedra, centenária, com quase três metros de altura e cerca de 50 m de comprimento, pelo que os trabalhos decorreram ao longo de cerca de quatro a cinco horas. A remoção realizada no dia quatro foi mais rápida, devido às menores dimensões do obstáculo. Em ambos os casos houve especial cuidado em assegurar que se mantinha a estabilidade das margens", afirma a investigadora do MARE Sílvia Pedro.

"As próximas intervenções envolverão a instalação das soluções de transposição piscícola. Encontra-se já no início a primeira intervenção, que criará um canal bypass no açude mais a montante na área de intervenção no Rio Alfusqueiro, e que deverá ficar terminada no decorrer das próximas semanas", conclui a investigadora.

Note-se que estas barreiras são um entrave à sobrevivência de espécies que necessitam passar do rio para o mar e vice-versa. A remoção das mesmas levará a uma melhoria do Estado Ecológico, definido pela Diretiva Quadro da Água. Para tal, o projeto propõe-se também a desenvolver e aplicar um conjunto de soluções demonstrativas para renaturalizar a morfologia fluvial e assegurar o restauro ecológico dos habitats aquáticos e terrestres associados, através, por exemplo, do controlo da vegetação invasora e reflorestação das mesmas áreas com espécies autóctones.

É igualmente propósito do projeto desenvolver, ensaiar e avaliar um conjunto de soluções inovadoras que têm por alvo a translocação de juvenis de enguia-europeia, medidas custo-eficazes de apoio à monitorização exigida pela DQA e a diferenciação/valorização económica, pelo consumidor, do pescado que resulte de práticas de pesca sustentável.