Expedição à montanha subaquática Gorringe chega ao fim

Durante duas semanas uma equipa internacional de 30 investigadores esteve embarcada a fazer um levantamento da biodiversidade de dois dos picos da maior montanha submarina de Portugal, o banco de Gorringe. A expedição que conta com a participação do investigador do MARE João Franco, chega agora ao fim.

Localizado a cerca de 240 quilómetros a sudoeste do cabo de São Vicente, o banco de Gorringe é uma cordilheira submarina com cerca de 180 quilómetros de comprimento e 60 quilómetros de largura que se ergue desde uma profundidade de 5.000 metros até um planalto de profundidade entre os 200 e os 300 metros, e com os dois picos principais (Gettysburg e Ormonde) a erguerem-se até aos 60 metros e aos 25 metros da superfície. Mais altos que as montanhas do Pico e da Serra da Estrela juntas, estes locais inserem-se em ecossistemas com uma enorme biodiversidade, onde já foram identificadas mais de 800 espécies, desde fauna e flora bentónica a mamíferos marinhos, tartarugas e aves marinhas.

Sendo um local de elevado interesse e pouco explorado, a Fundação Oceano Azul, juntamento com o Oceanário de Lisboa, Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e a Marinha, promoveram esta campanha oceanográfica num esforço de impulsionar o caminho de Portugal no cumprimento da estratégia europeia de conseguir que até 2030 pelo menos 30 por cento do oceano seja protegido, com pelo menos 10 por cento com proteção estrita. Embarcados durante duas semanas no navio Santa Maria Manuela e nos catamarãs privados Feel Good e Oceanus II, cerca de 30 investigadores recolheram dados sobre a saúde e a biodiversidade do habitat oceânico criado pelos picos Gettysburg e Ormonde do banco de Gorringe.

Em declaração à impressa, Emanuel Gonçalves, coordenador da expedição, administrador da Fundação Oceano Azul, e membro do MARE, explica que está a ser feita “uma radiografia do estado de saúde do oceano” numa zona de grande riqueza biológica e que "muitos não sabem que Portugal tem esse enorme valor nas suas águas”. Segundo o investigador, o banco de Gorringe é um "desencadeador muito importante para acelerar em Portugal medidas de proteção e gestão eficaz de áreas marinhas”.

A recolha de dados, na qual participou também o investigador do MARE João Franco, inclui filmagens e registos fotográficos, mergulhos a profundidades variáveis para recolha de amostras, a utilização de 'drones', um sistema submarino de câmaras de vídeo para capturar imagens de animais no habitat natural sem a presença humana e um veículo subaquático controlado remotamente para observação de zonas mais profundas.

Estes dados resultarão num relatório científico, com publicação prevista para o primeiro trimestre de 2025, para sustentar a gestão daquela área, que desde 2015 já é área marinha protegida da Rede Natura 2000 mas exige proteção mais robusta.

 

 

 

Fotografias retiradas das redes sociais da Fundação Oceano Azul e do investigador do MARE João Franco