Ainda bastante desconhecidos, os pepinos-do-mar desempenham um papel fundamental nos ecossistemas marinhos – são, em boa parte, responsáveis pela saúde do fundo dos oceanos e de todas as espécies que lá habitam. E se a procura excessiva no Índico e no Pacífico, fruto da gastronomia e da cultura asiática, tem levado ao decréscimo alarmante do número de exemplares, este problema começa agora a atingir o Mediterrâneo e o Atlântico. Em Portugal, os pepinos-do-mar já são alvo de capturas ilegais para exportação – para travar a desregulação e a ameaça de extinção, o MARE iniciou um estudo para encontrar alternativas à pesca.
“Através destes estudos ficamos a conhecer o ciclo reprodutivo, as preferências de habitat e a estrutura demográfica destas populações. Percebemos, também, que este é, não só um recurso valioso, como um super-alimento, baixo em lípidos e hidratos de carbono, e rico em proteína e em compostos bioactivos com propriedades anti-inflamatórias e anti-oxidantes”, começa por explicar Pedro Félix, coordenador do estudo. “Contudo, enquanto recurso, não o podemos promover sem que haja uma forma sustentável de fornecer mercados, cuja procura já é crescente na Ásia. A produção de pepinos-do-mar é um desafio composto por várias etapas em que o MARE tem conquistado terreno. Neste momento, não só os reproduzimos em cativeiro, como trabalhamos para otimizar o seu crescimento, melhorando a alimentação e as condições zootécnicas, e estamos na linha da frente entre os grupos de investigação que globalmente realizam trabalho nesta área, com espécies emergentes (recentemente introduzidas no mercado)”, continua.
A equipa de investigação do MARE Sea Cucumber trabalha agora na implementação comercial do modelo de cultivo multi-trófico integrado (IMTA), método que permite reduzir os custos de produção e, consequentemente, os custos de venda, comercializando assim, um produto de qualidade, seguro e certificado.
“Os métodos de produção tradicionais têm um impacto elevado no ambiente. Os subprodutos das monoculturas são um elemento de pressão ambiental com consequências significativas, principalmente em estuários e lagoas costeiras. Sendo os pepinos do mar detritívoros, ou seja, alimentando-se da matéria orgânica do sedimento que ingerem nos fundos marinhos, conseguem ocupar um nicho nos sistemas de aquacultura onde lhes é disponibilizada toda a matéria orgânica retida nestes sistemas”, explica Pedro Félix.
Deste modo, os pepinos-do-mar são produzidos sem custos para a sua alimentação e melhoram as condições dos tanques de cultivo, reduzindo ou, no limite, contribuindo para impedir que estes compostos orgânicos vertam para o meio ambiente circundante. “Se a estes grupos juntarmos outros organismos, como bivalves filtradores que eliminem o material orgânico da coluna de água, e algas que eliminem o excesso de nutrientes libertados pelos outros organismos, conseguimos uma produção circular, com baixo custo de produção e reduzido impacto no ambiente. Estamos a trabalhar neste sentido e esperamos, em breve, implementar este modelo”, conclui o investigador.
A opção pela aquacultura traz, assim, um duplo benefício: promove a sustentabilidade no consumo (graças à reprodução artificial é possível garantir que as espécies capturadas não são provenientes de populações selvagens) ao mesmo tempo que protege o meio ambiente, evitando que os pepinos-do-mar desapareçam do fundo dos mares, onde contribuem também para prevenir a acidificação dos oceanos.