De 4 a 6 de setembro, a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa será palco da conferência internacional NEOBIOTA 2024, que reúne especialistas de todo o mundo para discutir as mais recentes abordagens e descobertas sobre espécies exóticas invasoras, tanto aquáticas quanto terrestres. Este evento bienal, considerado um dos mais relevantes globalmente na área das invasões biológicas, terá, nesta edição, a organização a cargo do MARE – Centro de Ciências do Ambiente, com o apoio da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e da Universidade de Évora.
Ao longo dos três dias de conferência, mais de 460 especialistas oriundos de cerca de 50 países irão compartilhar e debater os mais recentes avanços científicos e estratégicos em temas como a avaliação de risco, gestão e controlo de espécies invasoras, ferramentas inovadoras para deteção e monitorização, rotas de introdução e dispersão de espécies, bem como os impactos ambientais e socioeconómicos das invasões biológicas e suas implicações para a conservação da natureza. O expressivo número de inscritos, que superou as expectativas iniciais, evidencia a crescente importância e urgência desse tema a nível global.
Um dos destaques da conferência será a participação de dois cientistas de renome internacional: Anthony Ricciardi, que abrirá o evento com a primeira apresentação plenária, e Gregory Ruiz, responsável pela apresentação plenária de encerramento. Ambos são reconhecidos mundialmente por suas contribuições na área das invasões biológicas, oferecendo uma perspetiva global e estratégica sobre os desafios e soluções para enfrentar o impacto das espécies invasoras.
O relatório mais recente da ONU sobre a temática das espécies invasoras (IPBES, 2023) destaca que o impacto global das invasões exóticas é devastador: os custos anuais ultrapassam os 390 mil milhões de euros, e estas espécies são responsáveis por 60% das extinções recentes. Além disso, quase sempre prejudicam a qualidade de vida humana, nomeadamente através da propagação de doenças.
Em Portugal, o impacto das espécies invasoras tem motivado uma série de ações coordenadas, incluindo projetos de investigação, iniciativas de conservação financiadas pelo programa LIFE, e a implementação de planos de ação específicos para o controlo de espécies particularmente problemáticas. Essas iniciativas são articuladas entre várias entidades, incluindo o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), com o objetivo de conter, controlar ou erradicar espécies invasoras em território nacional.
Atividades Paralelas e Pré-Conferência
Antes do início oficial da conferência, a 3 de setembro, haverá workshops temáticos gratuitos dedicados a tópicos cruciais como os projetos LIFE focados em invasões biológicas, métodos de avaliação e gestão, o aproveitamento económico de espécies invasoras, a formulação de políticas públicas, e o envolvimento da ciência cidadã. Esses workshops oferecem uma oportunidade única para uma formação especializada e troca de experiências entre profissionais e investigadores.
Além disso, a organização preparou visitas técnicas a Sintra, ao Estuário do Sado (Setúbal) e ao Rio Tejo (Santarém), permitindo aos participantes observar de perto algumas das espécies invasoras presentes em ecossistemas locais e conhecer os projetos em curso para monitorização e controlo dessas espécies.
Destaques em Portugal: Planos de Ação e Espécies Problemáticas
Em Portugal, destacam-se planos de ação já em vigor para o controlo de espécies como o lagostim-vermelho-da-luisiana (Procambarus clarkii), a erva-das-pampas (Cortaderia selloana) e a ostra-japonesa [Crassostrea (Magallana) gigas]. Outro exemplo relevante é o plano para a erradicação da rã-de-unhas-africana (Xenopus laevis), uma espécie invasora originária do sudeste de África, identificada nas ribeiras da Laje e de Barcarena. Além disso, estão em curso planos de gestão para a amêijoa-japonesa (Ruditapes philippinarum), uma espécie de bivalve dominante em alguns estuários portugueses e um recurso de importância económica no estuário do Tejo. O peixe-gato ou siluro (Silurus glanis), um predador originário da Europa Central que se tornou uma espécie dominante no Rio Tejo, é outro exemplo de desafio que está a ser abordado.
O NEOBIOTA 2024 promete ser um marco no debate e na formulação de soluções para os problemas das espécies invasoras, reunindo conhecimento de ponta e promovendo colaborações internacionais para enfrentar esse desafio crescente.
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