Desafios na Aquacultura: Calceostoma glandulosum e a Corvina

As investigadoras Maria Carolina Ribeiro e Teresa Baptista são co-autoras do artigo “First Report of Calceostoma glandulosum (Monogenea) in Argyrosomus regius: Morphological and Molecular Characterization and Temperature Effects on Life Cycle”, fruto da primeira caracterização do parasita Calceostoma glandulosum, que afeta frequentemente a corvina criada em aquacultura. 

A crescente demanda por alimentos, impulsionada pelo aumento da população mundial, tem levado a um aumento significativo na produção de peixe em aquacultura. Esse crescimento, embora necessário, traz consigo uma série de desafios, normalmente relacionados à intensificação dos sistemas de produção. O aumento da densidade populacional nos tanques provoca stress nos peixes, enfraquecendo o sistema imunológico e tornando-os mais suscetíveis a surtos de doenças, particularmente as causadas por parasitas.

Entre os parasitas que afetam os peixes produzidos em aquacultura destacam-se os chamados “parasitas monogenéticos”, aqueles que se desenvolvem em num único hospedeiro. Estes ectoparasitas, que se fixam nas superfícies externas dos peixes, são altamente específicos em relação ao seu hospedeiro, afetando uma das principais espécies em ascensão na aquacultura mediterrânea, a Corvina (Argyrosomus regius). Apreciada pela sua carne de alta qualidade e excelente taxa de crescimento, esta espécie é extremamente vulnerável a doenças parasitárias por falta de conhecimento sobre as mesmas. 

Neste contexto, um estudo recente que incluiu as investigadoras do MARE Maria Carolina Ribeiro e Teresa Baptista, lança uma nova luz sobre esse problema. O estudo apresenta a primeira caracterização morfológica e molecular de Calceostoma glandulosum, um ectoparasita da subclasse Monopisthocotylea encontrado com frequência nas corvinas. Este parasita destaca-se pela presença de uma lapela na região cefálica e um haptor (estrutura de ficxação no hospedeiro) em forma de âncora. O ciclo de vida de C. glandulosum, que inclui ovos, larvas (chamadas de oncomiracídios) e adultos, foi detalhadamente descrito no estudo, fornecendo uma compreensão mais profunda sobre sua biologia e seu impacto na aquacultura.

A investigação também revelou que a temperatura da água tem um papel fundamental no desenvolvimento dos ovos de C. glandulosum. Temperaturas mais altas favorecem a eclosão, com uma taxa de 100% de eclosão a 23°C. A presença do parasita nos tanques de cultivo foi mais comum quando a temperatura atingiu 20°C, o que sugere que as condições ambientais podem ser um fator determinante na propagação do parasita.

Para avaliar a especificidade do C. glandulosum para o meagre, os investigadores também estudaram a presença do parasita noutras espécies, como a dourada (Sparus aurata), o sargo (Diplodus sargus) e o lírio (Seriola rivoliana). Os resultados indicaram uma forte preferência do parasita pela corvina, o que destaca a importância de estratégias específicas para o manejo dessa espécie na aquacultura.

Este estudo fornece informações valiosas sobre o comportamento de C. glandulosum em relação às condições ambientais e à interação com seu hospedeiro, permitindo o desenvolvimento de estratégias de prevenção e controle mais eficazes em sistemas de aquacultura. Além de ampliar o conhecimento sobre os parasitas que afetam a corvina, estas descobertas têm o potencial de melhorar a saúde dos peixes e a sustentabilidade da produção em aquacultura, um setor vital para a alimentação global.

 

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