A temporada de lampreia de 2025 iniciou-se com um cenário preocupante: escassez de peixe e preços elevados, chegando a 100 e 120 euros por exemplar. Com a redução da safra no rio Minho e menos dias de pesca devido ao mau tempo, este já é considerado o pior ano de sempre para a lampreia.
Para diretor do MARE Pedro Raposo de Almeida, que tem acompanhado a situação de perto, este é apenas mais um reflexo do declínio contínuo da espécie, que se arrasta desde 2014. Em entrevista ao Jornal de Notícias, o diretor do MARE explicou que o ciclo de vida da lampreia é longo e que, caso a colheita de 2025 não seja satisfatória, os próximos anos poderão ser ainda mais difíceis.
“A esperança é a última coisa a morrer, mas se este não for um ano bom de lampreia, os anos a seguir não serão nada famosos. Serão terríveis”, afirma o investigador. Esta crise, trata-se de um problema já a nível global, afetando não apenas os rios portugueses, mas também outros ecossistemas internacionais. “Alguma coisa está a acontecer no mar. Tem havido cada vez menos retorno de animais. A mortalidade de lampreias no mar do lado de cá do Atlântico aumentou muito nos últimos tempos, provavelmente por causa das alterações globais.”
Para tentar mitigar a situação, estão em vigor restrições de pesca em vários rios portugueses, como o Minho, Lima, Vouga e Mondego, com redução dos dias de pesca e restrição de artes como o botirão. Pedro Raposo de Almeida defende que a pesca com esta arte deveria ser proibida, por ser "desleal para o animal".
Mas a solução não passa apenas por restrições. O investigador propõe também a translocação manual das lampreias “Uma das coisas que é importante fazer este ano, se for um ano bom, é uma translocação manual [transferência de espécies da uma área para outra], que é, basicamente, comprar as lampreias aos pescadores, e em vez de entrarem no mercado da restauração, serem metidas em viaturas em equipamentos de suporte de vida e levadas para montante, para locais onde elas vão descobrir as zonas de reprodução”, explica.
Este processo de translocação será realizado no âmbito de um projeto da Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra, ainda à espera de financiamento europeu. Contudo, o sucesso da medida depende da colaboração dos pescadores e dos recursos disponíveis, já que a lampreia pode ser vendida a preços elevados que este ano batem em máximos históricos de 100 e 120 euros por exemplar. “O problema é a lampreia a 100 euros e precisamos de fazer isto com umas centenas largas de animais. E nós, MARE e Universidade de Évora, é que vamos ter de arranjar o dinheiro” revela.
Apesar do cenário desafiador, Pedro Raposo de Almeida mantém uma visão de esperança e defende que, com paciência, é possível repor a população de lampreia. “Que esta espécie está a atravessar um período muito mau, está. Que é possível recuperar, também não tenho dúvidas, mas leva tempo. É possível que leve quase dez anos, por causa do ciclo de sete. Não há maneira de fazer isto de forma diferente, porque a Natureza definiu assim: são cinco anos de água doce e dois anos no mar. Não há volta a dar”, conclui.
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Fotografia de capa da autoria do projeto DiadSea