Oceano: A Chave para a Sustentabilidade no Espaço e na Terra

Em entrevista ao jornal Público, o investigador do MARE Marco Lemos explicou como os oceanos possam vir a desempenhar um papel vital, não apenas no desenvolvimento de colónias humanas noutros planetas, mas também no fornecimento de recursos para as viagens espaciais.  

Segundo Marco Lemos, organismos marinhos como algas, invertebrados e alguns microrganismos, têm um grande potencial para garantir a viabilidade das missões espaciais. O investigador, que publicou recentemente um artigo na revista científica Marine Drugs, defende que o estudo do fundo do mar é tão importante quanto a exploração do espaço, visto que, paradoxalmente, sabemos mais sobre a Lua do que sobre os oceanos.

À medida que o interesse pelo espaço renasce, especialmente com iniciativas como a promessa de Donald Trump de levar astronautas a Marte, surge uma nova oportunidade para integrar os recursos do mar às missões espaciais. O investigador acredita que esses recursos poderiam ser essenciais para sustentar a vida humana em planetas distantes, fornecendo alimentos, oxigénio outros elementos essenciais à criação de atmosferas artificiais. Destacou também que organismos como as algas, adaptadas a condições extremas por milhões de anos, seriam ideais para sobreviver em ambientes hostis como os de Marte e da Lua.

“Os recursos marinhos têm um significativo potencial para abordar eficazmente os objectivos das missões espaciais prolongadas e o estabelecimento de uma povoação espacial sustentável. As utilizações dos recursos marinhos na biotecnologia espacial são muitas e promissoras", explica.

Estes recursos poderiam ser aproveitados de diversas maneiras, como por exemplo, para produzir oxigénio, reciclar líquidos, gerar alimentos e até combustível. Para Marco Lemos, o potencial dos recursos marinhos vai além do espaço, podendo ser a chave para missões espaciais de longo prazo e para a criação de soluções sustentáveis para a Terra. "Existe um potencial significativo na parceria entre as ciências marinhas e as agências espaciais", e o avanço tecnológico com a colaboração internacional podem "estabelecer um futuro viável" além do planeta Terra, diz.

O investigador também aponta que biomateriais provenientes do mar, como colágeno e quitosano, são promissores para tratamentos médicos, como a regeneração de tecidos ou o combate a doenças como o cancro e problemas cardíacos.

Para concluir, Lemos enfatiza que o uso de recursos marinhos para a biotecnologia espacial está longe de ser uma ideia distante. Para o investigador, o potencial dos oceanos não é apenas uma possibilidade futura, mas uma realidade presente que já pode ser explorada para diversas finalidades, incluindo a produção de alimentos saudáveis, biocombustíveis e soluções inovadoras para problemas ambientais e médicos. “Isto é presente”.

(Fotografia de André Kosters/LUSA)