Afinal há esperança nos oceanos e em nós?

“De alguma forma temos de usar estes cérebros inteligentes, temos de nos juntar e descobrir as soluções antes de ser demasiado tarde” refere a ativista Jane Goodall a propósito dos seus ensinamentos sobre esperança, sem a qual acredita ser difícil encontrar soluções para as alterações climáticas. 

 

Acordos prometedores foram feitos na última Conferência dos Oceanos em Lisboa: a Austrália anunciou investir na Grande Barreira de Coral 1,1 mil milhões de euros, o Quénia tenciona aprovar a legislação que cria o crime de ecocídio e a Colômbia, por exemplo, pretende aprovar a ampliação das Áreas Marinhas Protegidas (AMP) para 30%. Portugal assumiu como metas atingir dez gigawatts de capacidade até 2030 nas energias renováveis oceânicas, duplicar o número de startups na economia azul, e também classificar como AMP 30% dos habitats marinhos nacionais até 2030.

 

Juntaram-se, no final de junho, cerca de 6700 pessoas de quase 150 países para “Salvar os Oceanos, proteger o Futuro”, entre os quais investigadores do MARE. Foi uma grande oportunidade e mais uma chamada de atenção. Foi um marco na história? Que caminho se definirá de ora avante?

 

“Os eventos de alto nível têm um papel crucial para colocar determinados assuntos na agenda política. No caso da UNOC, a sua realização é extremamente relevante para realçar a urgência na proteção do Oceano. No entanto, notou-se alguma frustração na opinião pública, devido à sensação de que tudo já estava decidido à partida, e à dificuldade em visualizar o potencial efetivo de alteração de políticas e comportamentos. Apesar desta visão, parece-me que a UNOC2022 será recordada como um marco ao colocar o Oceano no centro de outras agendas políticas essenciais para a proteção do ambiente, nomeadamente a Convenção para as Alterações Climáticas, e a Convenção sobre a 8Diversidade Biológica”, esclarece a investigadora do MARE Zara Teixeira.

 

Para o investigador do MARE Frederico Almada, o encontro com a Sylvia Earle e Paul Nicklen foram pontos altos. “A primeira um exemplo para todos do que um cientista pode fazer pela conservação do Oceano e o segundo um fotógrafo de renome internacional que produziu materiais que já usámos num projeto que coordeno: o Kids Dive”. O investigador confessa não trazer nenhuma mensagem que não estivesse já bem interiorizada, no entanto traz muitos contactos que podem ser úteis no futuro, e isso é um sinal de esperança.

 

Já o investigador do MARE João Correia trouxe uma “mensagem de positivismo, porque claramente os milhares de stakeholders que estiveram reunidos em Lisboa estão empenhadíssimos em trabalhar com afinco para resolver os problemas que os oceanos enfrentam, o que me faz olhar para o futuro de forma sorridente”.

 

A ONU fixou 10 metas a alcançar entre 2020 e 2030 no âmbito do objetivo de Desenvolvimento Sustentável 14, sobre a proteção da vida marinha como a prevenção e redução da poluição e da acidificação, a proteção dos ecossistemas, a regulamentação da pesca e o aumento do conhecimento científico. Há algumas novidades melhores do que esperávamos, conta João Correia: enquanto o mundo almeja 30x30 – ou seja, 30% dos oceanos como Áreas Marinhas Protegidas – o Panamá já tem 35% e almeja 40% em dois ou três anos.

 

No final acreditamos: “Que o oceano e a sua conservação entrem definitivamente na agenda política quer a nível Europeu, quer nacional, quer local”, referiu Frederico Almada. “Porque a esperança faz com que valha a pena tomar uma atitude. Se não houver esperança, de que vale o incómodo de fazer algo?” Jane Goodall.