O projecto CavAlMar é uma parceria entre a Câmara Municipal de Almada, MARE e o ISPA, com o objetivo de estudar a biodiversidade ao longo da costa ribeirinha da região de Almada, com especial foco nos cavalos-marinhos.
Conhecidos e apreciados no mundo inteiro, os cavalos-marinhos são pequenos peixes difíceis de avistar, mesmo quando escolhem zonas costeiras de pouca profundidade como habitat. Imagine o espanto do agora coordenador de operações de mergulho do CavALMar, Mário Rolim, quando os encontrou pela primeira vez na zona de Almada, entre a Trafaria e o Alfeite.
A descoberta, fê-lo avisar o amigo e biólogo marinho do MARE Gonçalo Silva, que ao explorar a zona encontrou uma população de cavalos-marinhos com cerca de 20 cms de comprimento. “Observei cavalos-marinhos de focinho comprido, os Hippocampus guttulatus e cavalos-marinhos comum, o H. hippocampus. Também encontrei marinhas (Syngnathus acus), que são da mesma família, mas diferem pela morfologia alongada e locomoção na horizontal. Distribuem-se também por toda a frente ribeirinha de Almada, tendo na baía da Trafaria uma das populações mais importantes no concelho”, refere o investigador do MARE em entrevista à Sustentix.
A partir da descoberta, iniciaram-se os mergulhos e a realização de censos, registando a biodiversidade daquela zona. “Quando encontramos um cavalo-marinho ou marinha pegamos no animal, fotografamos, medimos, cortamos um pouco da sua barbatana para retirar uma amostra de DNA e depois libertamo-lo”, explica.
O objetivo é caracterizar a população destes animais, o seu habitat e o impacto que o lixo marinho, para se definir um plano de conservação. Entre setembro de 2022 e julho de 2023, foram registados cerca de 60 exemplares. Gonçalo Silva reforça que estes resultados são provisórios, desconhecendo-se ainda se a população é ou não estável, já que está sujeita a bastantes ameaças como o lixo marinho, derrocada de pontões que lhes servem de habitat, dragagens, ruído subaquático e a pesca excessiva.
Para o investigador do MARE, a construção do porto de pesca da Trafaria poderia ser uma oportunidade para a conservação. “Neste momento está coberto de lixo e mergulhar ali é inclusive perigoso”. A APA colocou em consulta pública um documento relativo à Proposta de Definição do mbito (PDA) do Estudo de Impacte Ambiental (EIA) do projeto Portinho de Pesca da Trafaria, na vila de Trafaria, município de Almada, mas o projeto está parado, apesar de várias entidades e pescadores já terem dado o seu parecer.
Gonçalo Silva realça que seria importante que os cavalos-marinhos fossem reconhecidos, até porque poderiam ser uma atração para o concelho, acreditando que a natureza pode movimentar a economia de uma determinada zona.
Fotografias de Mário Rolim