Pedro Raposo de Almeida defende proibição da pesca da lampreia devido à escassez.

 

Pedro Raposo de Almeida, diretor do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE) e especialista em peixes anádromos (espécies que, como a lampreia, se reproduzem em água doce, mas que se desenvolvem até à forma adulta no mar), defende a proibição da pesca da lampreia devido à sua crescente escassez nos rios portugueses. Uma situação que já levou o município de Penacova a cancelar o Festival da Lampreia, que normalmente ocorre em fevereiro. 

Nos últimos anos, a seca e outras situações inexplicáveis têm afetado a espécie no mar, resultando em maior mortalidade. Essa escassez não é exclusiva de Portugal, pois Espanha e França também enfrentam problemas semelhantes. No entanto, Portugal é o limite sul de distribuição da lampreia. Embora os caudais dos rios não sejam maus este ano, tudo indica que pode ser o pior ano de registo na passagem para peixes açude-ponte de Coimbra, no rio Mondego. Quando em 2014 foram registados 20 mil espécimes, em 2023 chegou apenas aos 1508.

O Investigador calcula que, se não dermos oportunidade à espécie de se reproduzir, "daqui a 7 anos [ciclo de vida da lampreia] será ainda pior". Para o Diretor do MARE é fundamental reduzir ao máximo a mortalidade das lampreias pela pesca, de forma a tentar garantir uma recuperação das suas populações nos rios portugueses.

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A este propósito, a Câmara Municipal de Penacova, a Confraria da Lampreia de Penacova e o MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente realizáram um colóquio no dia 24, com o objetivo de chamar a atenção para a escassez de lampreia e apresentar propostas para proteger esta espécie e tentar reverter a situação daquela que é uma espécie com grande importância socioeconómica e cultural no país.

Segundo Pedro Raposo de Almeida, diretor do MARE e especialista em peixes migradores e habitats fluviais, é crucial investir na investigação, especialmente na fase do ciclo de vida ainda pouco conhecida, a fase oceânica. Essa fase provavelmente contém algumas das ameaças que têm contribuído para o declínio da espécie. Nesse sentido, a Universidade de Évora e o MARE lideram o projeto europeu INTERREG Espaço Atlântico, DiadSea, que irá mapear a distribuição das lampreias no mar e identificar áreas cruciais para a sobrevivência da espécie.

Em entrevista dada no programa Portugal em Direto, da RTP, Pedro Raposo de Almeida afirma que a proteção da lampreia passa pelo restauro dos habitats, restrições à pesca, gestão transnacional conjunta, tendo em conta que esta espécie partilha um conjunto de rios europeus para se reproduzir, e ainda o controlo de barreiras antropogénicas, de espécies invasoras predadoras, como o peixe-gato e de doenças e contaminações que afetam a lampreia no seu ciclo de vida.