No passado dia 7 de julho uma equipa de biólogos do MARE libertou, no Porto de Sines, 15 meros criados em cativeiro e marcados com transmissores que permitem localizá-los. Esta experiência tem como objetivo avaliar a viabilidade de realizar ações de repovoamento dirigidas a esta espécie ameaçada no Parque Marinho do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina (PMSACV). Na área escolhida para desenvolver este trabalho, o Porto de Sines, onde a pesca é interdita, um grupo de oito meros permaneceu durante um mês numa jaula de aquacultura. Um segundo grupo de sete meros foi libertado vindo diretamente do cativeiro. A libertação em simultâneo destes dois grupos pretendia responder à seguinte questão: Será que os meros que estiveram a ambientar-se na jaula permaneceram mais perto da área de libertação do que os indivíduos que não foram sujeitos a este período de contenção?
A resposta é sim! Quatro dos meros provenientes da jaula utilizaram a área do Porto de Sines nos três meses seguintes, e dois deles ainda não saíram desta área. Pelo contrário, todos os meros que foram libertados sem um período de contenção na jaula, dispersaram ao fim de duas semanas. Este resultado é indicativo de que a estadia temporária na jaula promove maior fidelização à área de libertação.
Para monitorizar os movimentos dos meros criados na Estação Piloto de Piscicultura de Olhão (IPMA), cada peixe foi marcado com um transmissor acústico que emite um sinal a cada 60 segundos. Ao longo dos fundos marinhos do Porto de Sines foram colocados recetores de biotelemetria para captar os sinais emitidos pelos transmissores permitindo, dessa forma, monitorizar continuamente os movimentos dos peixes marcados.
O mero é uma espécie ameaçada e extremamente importante em termos ecológicos por ser um predador de topo. Exceto nalgumas áreas protegidas, a abundância desta espécie é cada vez menor em toda a sua área de distribuição, que inclui a costa portuguesa. O PMSACV, cuja extremidade norte se situa na proximidade do Porto de Sines, abrange áreas com habitat adequado para o mero, que utiliza preferencialmente fundos rochosos onde se pode refugiar. Esta espécie abriga-se em fendas e cavernas durante o dia, saindo ao crepúsculo para caçar as suas presas. Este parque possui desde 2011 áreas marinhas protegidas onde a pesca é interdita e onde o mero poderá beneficiar de maior proteção e ser apreciado por atividades recreativas como o mergulho.
Por estes motivos, é reconhecida a necessidade de dirigir ações de conservação que promovam a recuperação desta espécie a nível nacional e local. Os resultados deste repovoamento experimental indicam que a libertação de um conjunto alargado de meros criados em cativeiro, que passem por um período de permanência numa jaula colocada na área selecionada para os indivíduos, pode contribuir de forma eficaz para o repovoamento desta espécie no PMSACV.
Este trabalho está a ser coordenado por investigadores do MARE (Faculdade de Ciências da Univ. de Lisboa / Univ. de Évora), em colaboração com investigadores do IPMA, e contando com a parceria da empresa de aquacultura Seaculture e da Administração dos Portos de Sines e do Algarve, e o acompanhamento do ICNF.
Jaula de aquacultura da empresa Seaculture utilizada para manter durante 1 mês na área de libertação (Porto de Sines),
o grupo constituído por oito meros marcados com transmissores acústicos.
Bernardo Quintella