O investigador do MARE Paulo Catry é coautor do artigo "Oceanic seabirds chase tropical ciclones" recentemente publicado na revista científica Current Biology. O artigo diz respeito ao estudo dos impactos dos ciclones tropicais, na busca de alimento da Freira-das-desertas (Pterodroma deserta)
A passagem de ciclones tropicais intensos no outono e no final do verão, pode perturbar profundamente os ecossistemas costeiros e oceânicos, afetando negativamente as comunidades marinhas. Apesar disso, estes fenómenos podem estar também associados a um aumento da produção primária e secundária nas zonas pelágicas.
Uma equipa de investigadores, na qual integra o investigador do MARE Paulo Catry, estudou o impacto dos ciclones tropicais nos hábitos de forrageamento da Freira-das-desertas, uma ave marinha encontrada em latitudes médias no Atlântico norte. Contrariamente a outras aves marinhas estudadas em regiões tropicais, a freira-das-desertas não altera a sua rota de forma a evitar os ciclones, nem procura condições mais calmas no seu interior. A equipa de investigadores, que seguiu estas aves desde a sua colónia de reprodução, observaram que cerca de um terço das freiras-das-desertas interagiam com os ciclones, sendo que um quarto dos animais seguiu as vagas dos ciclones ao longo de milhares de quilómetros durante vários dias.
Para além deste comportamento inédito, verificou-se que com a passagem dos ciclones, a temperatura da superfície do mar desceu e a clorofila à superfície aumentou drasticamente. Esta alteração expressa-se num aumento da produção primária, e consequentemente na abundância de alimento à superfície, onde a freira-das-desertas se alimenta.
Estas observações permitiram concluir que os ciclones proporcionam condições de vento favoráveis à criação de oportunidades de alimentação para estas aves. Para além disso, utilizando a dinâmica de subida durante o voo para extrair energia dos ventos, as freiras-do-deserto efetuam alguns dos movimentos mais longos de procura de alimentos durante uma época de reprodução.
Deste modo, os ciclones tornam-se em fenómenos com efeitos positivos na demografia de muitas aves marinhas, e possivelmente, de outros predadores marinhos de topo.
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Fotografia de capa da autoria de Jorick van de Westeringh, disponível AQUI