Os investigadores do MARE Ivo dos Santos, Vítor Paiva, Ana Norte, Filipe Ceia, Joana Pais de Faria, Jorge Pereira, Lara Cerveira, Maria Laranjeiro, Sara Veríssimo e Jaime Ramos são co-autores do artigo “Assessing the impacts of trace element contamination on the physiology and health of seabirds breeding along the western and southern coasts of Portugal”. A investigação que deu origem ao artigo baseou-se numa análise ao sangue de gaivotas e cagarras, para identificação da concentração de oligoelementos como o mercúrio, o selénio, e o chumbo.
Os ecossistemas marinhos estão cada vez mais sujeitos às consequências das atividades humanas. Entre as crescentes ameaças de origem antropogénica estão os efeitos da superexploração dos minérios metálicos para atividades como a metalurgia ou a construção, que libertam oligoelementos como o mercúrio, o selénio e o chumbo no ambiente marinhos. Tais elementos infiltram-se nas cadeias tróficas por meio de diferentes mecanismos: por meio da adsorção em partículas suspensas ou matéria orgânica dissolvida, por meio de sua absorção por microrganismos e fitoplâncton, ou diretamente da água por meio de guelras e pele, acumulando no organismo de diversas espécies marinhas.
As aves marinhas são frequentemente usadas como indicadores do estado de saúde dos ecossistemas marinhos devido à sua vulnerabilidade a contaminação por atividades de origem humana. Dentro deste grupo de animais, destacam-se as aves marinhas costeiras que são altamente vulneráveis à contaminação de oligoelementos, devido à sua proximidade a atividades antropogénicas como crescente urbanização e o aumento do número de embarcações de pesca, que contribuíram para o aumento da liberação de elementos em seus habitats de forrageamento (por exemplo, cádmio (Cd), cobre (Cu), níquel (Ni), chumbo (Pb), zinco (Zn)). Apesar disso, a nossa compreensão sobre o modo como estes contaminantes afetam a fisiologia destas aves ainda é escassa, havendo uma incerteza relativamente a esta vulnerabilidade e a sua tolerância a contaminações ambientais deste género.
Neste sentido, uma equipa de investigadores na qual integram diversos membros do MARE, quantificaram a presença destes oligoelementos contaminantes no sangue de gaivotas (gaivota-de-patas-amarelas Larus michahellis e gaivota-de-audouin Ichthyaetus audouinii ) e cagarras (cagarra-de-cory Calonectris borealis), pertencentes a cinco colónias reprodutoras ao longo da costa portuguesa.
Esta análise mostrou que as concentrações de mercúrio e chumbo no sangue destas aves excederam os limites de toxicidade em 25% e 13% dos indivíduos, respetivamente, tornando-se numa preocupação ecotoxicológica, especialmente porque altas concentrações de mercúrio, juntamente com o selénio, estão associadas a uma diminuição da taxa de sedimentação de glóbulos vermelhos, e a uma maior imaturidade dos mesmos. Apesar disso, as proporções de selénio em relação ao mercúrio sugerem que estas espécies podem estar protegidas da toxicidade do mercúrio. Análises à concentração de isótopos estáveis de Carbono e Azoto, mostraram ainda que a variação da concentração de oligoelementos no sangue dos animais, variam de acordo com a localização da colónia, e consequentemente, com os hábitos de procura de alimento das aves marinhas.
Este estudo representa uma contribuição significativa para nossa compreensão da contaminação sanguínea por oligoelementos em aves marinhas costeiras e oceânicas, e mostra que será necessário um monitoramento constante devido às concentrações potencialmente perigosas destes elementos.
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