Plásticos e Gaivotas: Como o lixo marinho está a afetar a fertilidade das aves marinhas

Os investigadores do MARE Sara Veríssimo, Vítor Paiva, Lara Cerveira, Jorge Pereira, Jaime Ramos, Isabel dos Santos e Ana Cláudia Norte são coautores do artigo “Physiology and fertility of two gull species in relation to plastic additives' exposure” recentemente publicado na revista científica Science of the Total Environment. No estudo, os investigadores avaliam os efeitos da absorção de aditivos plásticos em Gaivotas de Patas Amarelas e em Gaivotas de Audouin.

A poluição de plásticos em ambientes naturais e urbanos tornou-se numa ameaça crescente ao bom funcionamento dos ecossistemas, impactando diretamente a biodiversidade. Este fenómeno é uma preocupação especialmente para as espécies marinhas e costeiras, que para além de estarem em risco de ficarem presas em detritos de plástico, ingerem com frequência este lixo marinho levando muitas vezes à morte do animal. Para além disto, há uma preocupação crescente com a possível contaminação química característica da degradação do plástico.

Os aditivos libertados, usados ​​para melhorar ou conceder propriedades diferentes aos plásticos, normalmente não são quimicamente ligados ao polímero. Isto significa que podem facilmente lixiviar para o ambiente circundante e acumular-se nos tecidos de diferentes espécies, causando problemas ao nível fisiológico.

Apesar dos Éteres difenílicos polibromados (PBDEs) serem proibidos atualmente por causarem problemas endócrinos, ainda se encontram presentes no meio natural devido à lixiviação de materiais de plástico utilizados décadas antes. Mais recentemente, os PBDEs metoxilados (MeO-BDEs) têm atraído a atenção dos investigadores, por terem sido detetados em diferentes espécies, desde posições tróficas baixas até predadores de topo, frequentemente em concentrações mais elevadas do que as dos PBDE. O seu potencial de bioacumulação e o facto de partilharem estruturas químicas semelhantes às dos PBDE indicam que estes compostos podem causar efeitos tóxicos idênticos nos organismos.

Sendo as gaivotas utilizadas como indicadores ambientais devido à sua elevada área de distribuição, posição trófica e comportamento oportunista, uma equipa de investigadores, na qual integram vários elementos do MARE, avaliaram a absorção de PBDEs e MeO-BDEs em diferentes tecidos de Gaivotas de patas amarelas (Larus michahellis , YLG) e gaivotas de Audouin ( Ichthyaetus audouinii , AG) e seus efeitos em parâmetros fisiológicos e reprodutivos.

Os resultados deste estudo indicam que, de modo geral as gaivotas adultas apresentam uma inibição do sistema imunológico e a sua neurofunção prejudicada quando apresentavam elevadas concentrações destes aditivos de plástico nos seus tecidos. Já as suas crias, apresentaram inflamação e stress oxidativo. Para além disto, verificou-se uma diferença significativa na contagem de espermatozoides, tendo implicações para a fertilidade destes animais.

Este estudo confirma então, a presença generalizada de compostos associados ao plástico e seus efeitos nocivos nas gaivotas, particularmente na neurofunção, no sistema imunológico, no equilíbrio oxidativo e na fertilidade, especialmente devido à presença de MeO-BDEs. Estes resultados mostram-se uma preocupação a nível ambiental e de saúde para estes animais e todos os elementos da cadeia trófica, afetando também, por consequência, a saúde humana.

 

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