CavALMar - Os Cavalos-marinhos de Almada

O projeto CavALMar é uma parceria entre a câmara Municipal de Almada e o MARE, que se foca no estudo da biodiversidade ao longo da costa ribeirinha do conselho de Almada, e em particular das populações de cavalo-marinho que habitam esta zona. O estudo associado ao projeto teve início no verão de 2022 e terminou no final de 2023. Durante este período foram visitados 13 locais, desde a Cova do Vapor ao Alfeite, 9 dos quais apresentavam singnatídeos (cavalos-marinhos ou marinhas).

Em Portugal continental existem apenas duas espécies de cavalos-marinhos: o cavalo-marinho-comum (Hippocampus hippocampus) e o cavalo-marinho-de-focinho-comprido (Hippocampus guttulatus), ambos presentes na frente ribeirinha de Almada.

Durante o decorrer do estudo, foram observados 29 cavalos-marinhos-de-focinho-comprido, 7 cavalos-marinhos-comuns e 6 marinhas da espécie Syngnathus acus. "Há que salientar que estes valores são elevados para estas espécies, tratando-se de espécies raras, difíceis de detetar, com pouca mobilidade, e que ocorrem pontualmente em áreas muito restritas", referiu Gonçalo Silva, coordenador do projeto e investigados do MARE ao jornal Público.

Para além destes valores, o investigador foi também surpreendido com o "habitat" onde estes animais se encontravam: "carrinhos de supermercado, redes de pesca, covos, fios de nylon, anzóis, chumbadas, garrafas de plástico e de vidro, pneus, esferovite, cabos, estruturas de ganchorra, sacos de plástico, baldes, latas, luvas, máscaras, uma montanha imensa de cascas de ostra, entre muitos outros itens, referiu Gonçalo Silva no seu artigo de opinião à Intelcities. Para além do lixo, estas populações estão ainda sujeitas a outras ameaças como a pesca ilegal e acessória, a poluição, o ruído subaquático e a destruição de habitat.

Surge assim a necessidade de proteger estas populações. "Os cavalos-marinhos são espécies carismáticas que reúnem o consenso quanto à necessidade da sua preservação, pelo que são consideradas espécies-bandeira", começa por explicar Gonçalo Silva. "Ao protegermos estas espécies e o seu habitat, estamos a beneficiar também muitas outras. Na verdade, os cavalos-marinhos constituem per se uma oportunidade não apenas para promover a reabilitação ambiental, mas também a urbana e social. É através de espécies-bandeira, como os cavalos-marinhos, que podemos criar e fortalecer laços de afetividade entre pessoas e o meio aquático, motivando-as a preservarem-no".

Foi neste contexto que no passado dia 10 de abril, de realizou em Almada a conferência "Cavalos-marinhos de Almada: um património único a conservar". Acompanhada da exposição de fotografia subaquática de Sylvie Dias, a conferência ofereceu a possibilidade de conhecer um pouco mais sobre estes animais, contribuindo para a sua conservação, ao abrir espaço para uma reflexão sobre a gestão e preservação do valor ecológico existente neste território ribeirinho. Este evento contou com a participação dos investigadores do MARE Gonçalo Silva, Manuel Eduardo dos Santos, Miguel Correia e Ricardo Mendes,

Apesar disso, o investigador Gonçalo Silva considera que ainda há muito por ser feito, e dever-se-á de investir na conservação destes animais, que passa pela integração da comunidade e autoridades locais no projeto. “Gostávamos muito que esta população [de cavalos-marinhos] fosse um orgulho local e nacional”, conclui o investigador.

 

   

 

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Para ler o artigo de opinião do investigador Gonçalo Silva, clique AQUI

 

 

As fotografias subaquáticas são da autoria de Sylvie Dias e Mário Rolim