Dia 2 de fevereiro de 2025, assinalou-se o Dia Mundial das Zonas Húmidas como forma de promover a gestão sustentável destes ecossistemas. Em comemoração da data, o investigador do MARE José Carlos Ferreira partilhou a sua opinião com a revista Ambiente Magazine.
As zonas húmidas são ecossistemas essenciais à vida, proporcionando serviços fundamentais à biodiversidade e à economia. No entanto, continuam a enfrentar ameaças crescentes devido à ação humana, através do uso desordenado do solo e das mudanças climáticas. Nesse contexto, a sua preservação e recuperação tornam-se urgentes, sendo imprescindíveis para garantir um futuro sustentável.
Estes ecossistemas são constituídos pauis, charcos, lagoas, estuários, sistemas lagunares e sapais, que em Portugal incluem os Estuários do Tejo e do Sado, a Ria de Aveiro e a Ria Formosa, a Lagoa das Sete Cidades, e muitos outros.
Segundo José Carlos Ferreira estes locais fornecem serviços vitais: "Regulam os regimes hídricos, reduzindo o risco de inundações e contribuindo para a recarga dos lençóis freáticos. Funcionam como filtros naturais, removendo poluentes e melhorando a qualidade da água. Além disso, são sumidouros de carbono, ajudando a mitigar os impactos das alterações climáticas".
Para o investigador "O seu contributo é igualmente decisivo na adaptação climática, ao protegerem as zonas costeiras da erosão e do impacto das tempestades, minimizando os efeitos do galgamento oceânico e das inundações. São também habitats essenciais para uma vasta diversidade de espécies, incluindo aves migratórias, peixes e anfíbios. No plano económico, sustentam atividades fundamentais como a pesca, a aquacultura, o turismo e a produção de sal e arroz. Além disso, possuem um valor cultural e científico significativo, sendo palco de investigação e atividades recreativas."
Apesar da sua grande importância, as zonas húmidas estão extremamente ameaçadas. "A falta de um ordenamento do território de base ecológica, a urbanização e a expansão agrícola têm levado à sua drenagem e destruição. A poluição proveniente de indústrias, esgotos e produtos agrícolas compromete a sua qualidade ecológica. A sobre-exploração dos recursos hídricos tem secado muitos destes ecossistemas, comprometendo a vida que deles depende", enumera o investigador.
Para além disso, esta situação é cada vez mais agravada pelas alterações climáticas, com a intensificação das secas, o aumento do nível médio do mar e o aumento da frequência de tempestades.
O que podemos fazer? Para José Carlos Ferreira, a resposta passa por "implementar programas de restauro ecológico que permitam recuperar ecossistemas degradados; reforçar a fiscalização ambiental para impedir a destruição e poluição das zonas húmidas; promover a utilização sustentável dos recursos, assegurando que as atividades económicas não comprometam o equilíbrio destes habitats e, por último e talvez a mais importante, aumentar a literacia ambiental e desenvolver processos de envolvimento ativo das comunidades com vista ao aumento do conhecimento e consequentemente da proteção ativa das zonas húmidas".
"Proteger as zonas húmidas é proteger o nosso futuro. Afinal, só conhecendo podemos valorizar, e só valorizando podemos realmente proteger", conclui o investigador.