A investigadora do MARE Maria José Costa foi entrevistada pela Green Efact, para falar sobre o seu livro "O Estuário do Tejo, onde o rio encontra o mar". A investigadora é professora catedrática reformada da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, e uma das 100 cientistas homenageadas pelo Dia da Mulher da Ciência Viva em 2017.
O Estuário do Tejo é um autêntico laboratório natural para o estudo das alterações climáticas, que apareceu há cerca de 80 milhões de ano no final do período glacial. Com uma superfície de 320km quadrados, o estuário do Tejo é uma zona de transição biogeográfica com fauna e flora do clima Mediterrâneo, Atlântico Subtropical e Atlântico Temperado.
As características do estuário permitem a presença de organismos sequestradores de carbono que contribuem para as águas bem oxigenadas. "“As ervas marinhas, plantas rasteiras nas zonas estuarinas e costeiras, asseguram o sequestro de carbono. Por exemplo, as sebas e prados na praia do Samouco sequestram o equivalente às emissões de oito automóveis durante um ano, sendo o mais produtivo ecossistema do planeta. O problema é que são normalmente destruídas pela atividade humana apesar de serem protegidas pela Diretiva Habitats”, refere Maria José Costa em entrevista à Green Efact.
Segundo a investigadora, a qualidade da água do estuário nem sempre foi a melhor. Só no final dos anos 90 é que houve uma melhoria devido ao desmantelamento de certas unidades industriais, à despoluição do Trancão e à reabilitação zona oriental com o advento da Expo 98. Apesar disso, a comunidade piscícola só conseguiu recuperar 13 anos depois da remoção das águas residuais do estuário “Ocorreu também uma maior sensibilização ambiental por parte da população, das autarquias, das próprias regras da União Europeia”, diz Maria José Costa.
“Os problemas que o estuário do Tejo enfrenta hoje ainda são complexos como a captura ilegal de mexilhão, de ameijoa japonesa e de corvina, além da navegação intensa que conduz ao surgimento de espécies exóticas e que obriga também a dragagens permanentes do leito do rio”, alerta a investigadora.
Para Maria José Costa, atualmente “o mais importante é a manutenção dos habitats naturais para a fauna e flora e do corredor migratório de aves do Atlântico Norte”. Tal como também é “o cuidado com a artificialização das margens do rio”, para não destruir estes habitats.