O Diretor do MARE Pedro Raposo de Almeida alertou para a grande diminuição das populações de lampreia em Portugal. Em entrevista em direto à RTP, o investigador explicou as possíveis causas para este fenómeno e as suas principais implicações.
As lampreias são um tipo de peixe ciclóstomo (de boca circular e sem mandíbula) que passa os primeiros cinco anos da sua vida em água doce, deslocando-se depois para o mar, para dois anos mais tarde regressar aos rios, desovar, e completar o seu ciclo de vida. Desde 2014 que se tem verificado um declínio continuado das populações em Portugal, Espanha e França, causando vários constrangimentos a nível ambiental, social e económico.
As barragens, poluição, e as alterações climáticas, são algumas das causas apontadas por Pedro Raposo de Almeida. Segundo o investigador “desde o século passado os animais perderam cerca de 80% da área de distribuição” e “com as alterações climáticas a fase do ciclo de vida no mar também se modificou e está a causar uma mortalidade excessiva”. Com a reprodução comprometida devido à redução das áreas de água doce, e a excessiva mortalidade no mar, desde 2014 que se verifica “um declínio acentuadíssimo na abundância de lampreia”.
Com as construções de diques e açudes, que atrasam a migração das lampreias, são cada vez menos os animais que chegam efetivamente às águas do mar. As previsões para este ano de 2024 é que tenham entrado no mar apenas 8 mil animais, um valor dez vezes mais pequeno do que se verificava no passado. Segundo Pedro Raposo de Almeida as previsões é que “2025 possa ser um ano dito normal, seguido de uma sucessão de anos maus”, tendo em conta os números de larvas e a disponibilidade em termos de recrutamento por parte dos nossos rios. O diretor do MARE realça que “2025 é um ano essencial para podermos repovoarmos os nossos rios, embora o resultado dessa proteção só se observe passados sete, oito anos”.
Parte da solução passa pela proibição da pesca da lampreia. “Se fossemos coerentes com o que se observa em termos científicos nós deveríamos fechar a pesca”, começa por explica Pedro Raposo de Almeida. “Mas também somos sensíveis àquilo que é a atividades profissional do setor”. Para já, o investigador defende apenas reduzir a pesca da lampreia, de forma a proteger a espécie, e as atividades dos pescadores que dependem da sua captura. “A nossa preocupação é que se estes números chegam a Bruxelas, Bruxelas vai aconselhar através do ISIS que se feche a pesca, e ela estando fechada vamos ter muita dificuldade em reabri-la porque não temos números para isso”.
Apesar das reuniões com várias associações de pescadores, o diretor do MARE verificou que “as pessoas não estão sensíveis a esta situação e não querem reduzir a pesca”. Pedro Raposo de Almeida defende que de facto deveria haver uma redução do período de pesca de lampreia, medida que não impactaria negativamente os pescadores “porque efetivamente capturando menos animais não vão ganhar menos dinheiro. Na realidade, oferecendo menos o mercado aumenta o preço”. O ano passado o preço da lampreia chegou aos 150 euros por animal.
Atualmente o panorama nacional para esta situação não é positivo. Deixando o alerta, espera-se poder sensibilizar as entidades competentes e aqueles que praticam a pesca da lampreia, para a limitação do período de pesca e respeitando o seu ciclo de vida.
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