A investigadora do MARE Sara Bettencourt concluiu recentemente a sua tese de doutoramento com a classificação de 19 valores. Durante os últimos quatro anos estudou o lixo marinho no Funchal, Madeira, com o financiamento da Fundação para a Ciência e Tecnologia. E foi com “muita alegria” que recebeu o resultado. “Uma pessoa fica sempre surpresa com uma nota destas, pois apesar de estar confiante com o trabalho desenvolvido não sabia até que ponto costumavam atribuir estas classificações. O trabalho apresentado foi publicado em quatro artigos científicos, todos em revistas com bons fatores de impacto e reconhecimento, o que também trouxe alguma tranquilidade aquando da discussão pública pois já tinha havido a priori uma validação e discussão do trabalho e resultados” reflete a investigadora.
Durante o trabalho realizou diversas amostragens na Praia Formosa e também na praia do Almirante Reis e muito foi o lixo marinho encontrado. Desde “pedaços de embalagens de cigarros, palhinhas” a “objetos de papel e cartão” e, como explica a investigadora, muito lixo não foi deixado pelos banhistas, mas transportado pelas ribeiras.
Esta investigação incluiu ações educativas que abrangeram várias faixas etárias junto de escolas, ensino noturno, centros de dia e universidades sénior. Os resultados foram muito positivos. Através de questionários (realizados antes e depois das ações educativas), entrevistas e brainstorming as pessoas reportaram alterações nas perceções, conhecimento e referiram que vão mudar comportamentos.
“O mais desafiante foi mesmo a questão da pandemia. Como o meu plano de trabalho tinha muito contacto presencial com diversos públicos-alvo (i.e., crianças, adultos e idosos), a limitação de não poder interagir presencialmente veio dificultar e atrasar o desenrolar das ações educativas. Outro desafio foi desenvolver estratégias educativas que fossem apelativas para os diversos públicos-alvo e estivessem de acordo com os princípios preconizados na educação para o desenvolvimento sustentável, assim como avaliar essas mesmas estratégias (quando se fala em educação, é sempre um dos "calcanhares" do trabalho a questão da avaliação)” explica Sara Bettencourt.
“Com este trabalho consegui compreender que de facto a educação, sensibilização e corresponsabilização da população para a temática do lixo marinho são essenciais para a mudança de perceções, conhecimentos e intenções comportamentais, reforçando que se deve continuar a apostar nestas abordagens. Assim, continuar a comunicar ciência é um dos próximos passos, pois os resultados obtidos reforçam a importância e necessidade da mesma. Além disso, o trabalho mostrou que se deve englobar diversos públicos, pelo que será também importante continuar esta vertente de explorar alvos para além dos estudantes, ou seja, considerar a vertente da educação não formal nestes trabalhos”, conclui.
E deixa um conselho: “Um conselho que deixo, e que faz parte do título de várias das minhas palestras, é que o lixo marinho é um problema global que requer uma ação local, onde cada indivíduo tem um papel importante. É um problema de todos que requer uma ação conjunta, sendo por isso fulcral consciencializar para atuar”.