Diretor do MARE no Expresso – Tanto mar para tão pouco peixe

Existe uma grande diversidade de pescado em Portugal, mas 2/3 do que é efetivamente consumido é importado. O Diretor do MARE Pedro Raposo de Almeida, falou com o Expresso sobre a pouca quantidade de pescado apesar da elevada abundância no nosso país.

“Temos diversidade, mas nunca tivemos grande quantidade, pelo menos para suprir aquilo que o mercado pede”, esclarece Pedro Raposo de Almeida ao jornal Expresso. Atualmente a frota de pesca portuguesa retira do mar menos de metade do que era retirado nos anos 60. Em 2023, foram capturadas apenas 171 mil toneladas de pescado (81% na Zona Económica Exclusiva), que se refletem em 17 kg de per capita por ano. Apesar disto, cada português consome quase 60kg de pescado por ano.

Isto significa que 2/3 do pescado consumido em Portugal é importado. Só em 2023, este valor correspondeu a um balanço negativo de 1176,2 milhões de euros para o nosso país. A contribuir para este desequilíbrio está principalmente a importação de peixe e outros animais marinhos frescos, congelados e secos de Espanha, Noruega, Suécia, Países Baixos, Chile, África do Sul ou Rússia.

Para Pedro R. de Almeida, diretor do MARE, a solução passa pela valorização das espécies pescadas e pelo trabalho dos pescadores. A maioria da frota nacional é composta por barcos de pesca costeira e artesanal, que não se afasta muito da costa (cerca de 12 milhas náuticas) e que não se dedica exclusivamente à pesca de uma única espécie. Apesar disto cerca de 73% do que é pescado em Portugal corresponde a sardinha, carapau, cavala, pescada, polvo, faneca, verdinho e sarda, deixando as quotas de muitas espécies por esgotar.

“O peixe que apanhamos tem de ser valorizado, tal como o rendimento dos pescadores, para que as pescas sejam sustentáveis”, reforça Pedro R. Almeida, lembrando que “o preço dispara entre 5 e 10 vezes entre intermediários até ao consumidor final”, sem que esse rendimento chegue ao pescador.

Para além das artes de pesca, Portugal tem apostado na aquicultura, setor que cresceu cerca de 72% nos últimos 10 anos. Segundo as Estatísticas de pesca, o peixe, bivalves e algas produzidos em aquicultura em Portugal, correspondem a menos de 10% do total de capturas de animais marinhos selvagens a nível nacional, sendo o seu aumento travado por riscos ambientais e falta de financiamento.

Pedro R. Almeida reconhece os riscos, mas lamenta que a aquicultura não cresça mais em Portugal devido “a falta de incentivos”. Acrescenta, contudo, que estes “não devem ser para se ter jaulas com animais em excesso, correndo riscos como os que se vivem na Noruega”, onde as produções de salmão nos fiordes têm enfrentado surtos virais que contaminam as outras espécies, pondo em perigo os stocks selvagens.

 

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