Paula Sobral em entrevista ao Público: “Mais um contributo” para o estudo dos impactos dos plásticos na saúde humana

Após a publicação de um novo estudo sobre a presença de micro e nano plásticos no cérebro humano, a especialista e investigadora do MARE Paula Sobral, falou com o jornal Público sobre este estranho fenómeno.

Estudos recentes indicam que a acumulação de micro e nano plásticos no cérebro humano pode ser maior do que nos rins e no fígado, conforme revela um artigo recentemente publicado na revista Nature Medicine. A equipa de investigadores que analisou tecidos renais e do córtex pré-frontal obtidos durante autópsias, observou uma nova tendência: as concentrações de partículas plásticas nas amostras de 2024 eram mais elevadas do que nas de 2016.

A investigadora do MARE Paula Sobral, especialista em microplásticos que não participou do estudo, considera este estudo “mais um contributo” importante na compreensão da relação entre os plásticos e a saúde humana. Para a especialista, o artigo é um grande passo, pois melhora as técnicas analíticas para detectar e quantificar a presença de plásticos nos órgãos. “O estudo da Nature Medicine apresenta uma amostra razoável e uma combinação de diferentes técnicas analíticas, o que é sempre bem-vindo, uma vez que a comunidade científica enfrenta dificuldades técnicas em relação à quantificação de nano e microplásticos”, refere a investigadora.

O estudo destaca-se por utilizar uma abordagem inovadora. Primeiro, as amostras de tecido foram tratadas quimicamente (dissolvidas em hidróxido de potássio, resultando numa pasta posteriormente centrifugada para isolar as partículas sólidas). Depois, foram utilizadas técnicas como a cromatografia gasosa de pirólise (Py-GC) e a espectroscopia de infravermelho por transformada de Fourier (FTIR), para analisar a distribuição dos plásticos no fígado, nos rins e no córtex frontal de cadáveres humanos em dois períodos diferentes: 2016 e 2024. No total, 52 amostras de cérebro foram analisadas — 28 de 2016 e 24 de 2024 — sendo 12 de indivíduos com diagnóstico de demência.

As análises mostraram que todas as amostras apresentavam micro e nano plásticos, mas as de 2024 mostraram concentrações mais altas no córtex frontal em comparação com as de 2016. Já os tecidos renais e hepáticos recolhidos em 2024 tinham níveis similares aos das amostras de 2016.

Posteriormente, as amostras foram ainda compararam dados mais antigos de 1997 a 2013. A conclusão foi clara: as concentrações de micro e nanoplásticos eram sempre mais elevadas nas amostras mais recentes, sugerindo que a crescente poluição plástica pode estar relacionada ao aumento da bioacumulação dessas partículas nos órgãos humanos.

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