Primeiras Lampreias Translocadas no rio Mondego

Na passada sexta-feira dia 4 de abril, foi realizada a primeira translocação de lampreias no rio Mondego. A ação de conservação foi realizada no âmbito do projeto Life4Lamprey, no qual o MARE é entidade parceira. 

Há já vários anos que se tem verificado uma redução significativa das populações de lampreia em Portugal, não só na sua fase adulta como da sua fase larvar. Esta grande diminuição tem sido atribuída a diversos fatores como, barreiras migratórias, sobre-exploração, pesca ilegal, alterações climáticas. 

Para fazer face a este problema, o MARE tem adotado várias estratégias: “Já fizemos a recuperação do habitat e estamos a trabalhar anualmente ao nível da regulamentação das pescas, por isso, para combater esta grave redução, o que podemos fazer agora é aumentar o número de larvas no rio de desova”, explica o investigador Carlos Alexandre em entrevista à ECO Advance

Para isso, no passado dia 4 de abril iniciou-se uma nova estratégia, a translocação de adultos reprodutores para zonas mais a montante do rio Mondego. “O objetivo desta ação de translocação é uma tentativa de acelerar aquilo que é a recuperação da população da lampreia marinha no rio Mondego”, explica em entrevista a Notícias de Coimbra.

Carlos Alexandre sublinha que “este decréscimo da população de lampreia não é uma coisa isolada do rio Mondego. É uma coisa a nível nacional e até a nível europeu”, tendo-se desenvolvido a ação neste rio, devido à sua elevada importância para a espécie.

"A bacia hidrográfica do Mondego, onde estamos a concentrar o nosso trabalho, é um dos locais mais importantes a nível nacional e internacional para esta espécie. Está muito próxima do limite sul da distribuição global da espécie, o que confere uma grande importância para a conservação das suas populações.", explica o investigador. “Esta espécie nesta área tem também uma grande importância económica. É uma iguaria gastronómica, sustenta um circuito comercial que inclui vários stakeholders, pescadores, pescadores profissionais artesanais, distribuidores intermédios, restaurantes e festivais gastronómicos relacionados, pelo que é muito importante na área de estudo.”, conclui.

Devido à sua grande importância económica, cultural e social, as translocações foram realizadas com a ajuda de pescadores locais experientes. Apesar disso, das centenas de animais que o projeto Life4Lamprey pretende translocar, nesta primeira ação, apenas foram possíveis realocar 30 lampreias adultas. "Contratámos pescadores profissionais para trabalhar em contínuo [na captura de lampreias para a translocação], mas os números são absolutamente miseráveis e nunca apanhámos mais do que dois animais por dia” referiu Pedro Raposo de Almeida em entrevista à SIC.

Segundo Carlos Alexandre, o facto do número de animais translocados ser mais baixo do que o esperado é “um reflexo deste decréscimo de abundância”. “Libertámo-los mais ao final do dia para que eles possam já começar a migrar para montante”, “escolher a área de desova” e “reproduzir-se”, acrescenta.

Apesar destes enormes esforços, Pedro Raposo de Almeida alerta que o estado das populações de lampreia é crítico e que será necessário um maior investimento para as recuperar. “Os próximos anos não nos dão uma boa perspetiva e, portanto, tem de ser feito um investimento a sério através do Fundo Ambiental. Ou se pega no assunto e orientam-se vontades e políticas ou vamos estar sempre a correr contra o prejuízo", disse.

Para já, vão ser realizadas mais translocações durante o mês de abril para maximizar esta tentativa de recuperação da lampreia.

 

Fotografias de Pablo Martin Avidad