Foram libertadas no passado mês de outubro, as primeiras trutas assilvestradas criadas no Posto Aquícola de Campelo, em Figueiró dos Vinhos. Esta ação de libertação que ocorreu na ribeira de Alge, afluente do rio Zêzere, faz parte do Projecto “CRER – Adaptação do Posto Aquícola de Campelo para Criação Experimental de Trutas Assilvestradas”, que conta com o apoio técnico do MARE.
Este projeto piloto, tem como objetivo a criação experimental de trutas assilvestradas em viveiros adaptados no Posto Aquícola de Campelo, que simulam o habitat e comportamento naturais da espécie. As trutas são alimentadas com alimento vivo e têm o mínimo de contacto humano, visando o repovoamento sustentável dos cursos de água onde a espécie ocorre naturalmente, sem comprometer o património genético local.
Carlos Alexandre, investigador do MARE e um dos responsáveis pela componente técnica e científica do projecto, explicou que apesar de alguns desafios durante a produção, que levou ao número de trutas libertadas este ano não chegar a uma centena, estes animais possuem uma “maior probabilidade de sobrevivência", porque foram produzidos com condições muito próximas daquilo que vão encontrar na natureza. "Aquilo que achamos, e estamos a validar isso com as nossas experiências mais científicas, é que estes animais quando chegam à natureza são menos animais, mas têm uma maior probabilidade de sobrevivência. É neste sentido que esta libertação e estes animais que são produzidos em Campelo neste momento são importantes. Podemos assumir isto como uma mudança de paradigma naquilo que são as ações de repovoamento e a promoção do seu sucesso", destacou Carlos Alexandre à Lusa.
Para avaliar o sucesso desta ação e poder ser feita a monitorização, as trutas foram devidamente marcadas com um chip. Desta forma, "uma vez recapturado o animal", permite "identificar exatamente aquele indivíduo, de onde é que ele provém, o comprimento que ele tinha quando foi libertado, quanto é que cresceu, para onde se movimentou".
Carlos Alexandre adiantou ainda que foi reforçado o "lote de reprodutores com animais provenientes" daquela ribeira, que irão atingir a maturidade sexual nos próximos meses. "O que se segue é um novo ciclo de desova e produção destas trutas, que depois, novamente em setembro, outubro, vão ser libertadas e, esperamos nós, num número muito mais significativo". O investigador do MARE esclareceu que “depois de otimizado o procedimento e validado este novo processo de produção de trutas, o objetivo é transformar o Posto Aquícola de Campelo num verdadeiro centro de reabilitação dos ecossistemas ribeirinhos".
Segundo Carlos Alexandre, é ambição do projeto manter a produção de trutas, e alargar estas ações de libertação a outras bacias hidrográficas com populações mais reduzidas. Este trabalho poderá também ser alargado a outras espécies ameaçadas como o caso do salmão, que necessitem de ações de repovoamento. A autarquia de Figueiró dos Vinhos, pretende ainda a criação de um Centro de Reabilitação de Ecossistemas Ribeirinhos, que vise a promoção e divulgação do trabalho desenvolvido neste projeto.
Fotografias da autoria da Autarquia de Figueiró dos Vinhos