A desoxigenação causada pelas alterações climáticas torna o tubarão com maior distribuição no oceano mais vulnerável à pesca.
A investigação realizada por cientistas no Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE) da Universidade de Lisboa e no Centro de Investigação de Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO-InBIO) da Universidade do Porto, e de institutos em Inglaterra e Espanha, é a primeira a testar zonas de oxigénio mínimo (ZOM) em expansão e a forma como comprimem o habitat dos tubarões, empurrando-os para a superfície tornando-os assim mais suscetíveis à pesca.
As alterações climáticas estão a levar a uma redução do oxigénio dissolvido na água, um processo conhecido como desoxigenação dos oceanos. Este processo tem provocado a expansão tanto horizontal como vertical de ZOM permanentes, que são tipicamente encontradas a profundidades entre 200-800 metros nas regiões tropicais. No entanto, esta desoxigenação pode ter efeitos relevantes em peixes de grande porte e que necessitam de elevadas concentrações de oxigénio, como os tubarões pelágicos.
O trabalho publicado no jornal eLife, estudou o efeito da ZOM que se situa no Nordeste Atlântico (perto de Cabo Verde) nos movimentos e distribuição do tubarão azul. Estes tubarões viajam milhares de quilómetros através de bacias oceânicas inteiras, da superfície até mais de 1600 metros de profundidade.
Os autores marcaram tubarões azuis com transmissores de satélite para registar as profundidades máximas de mergulho dentro da ZOM e em áreas circundantes do Oceano Atlântico Norte. “Ao seguir os movimentos horizontais e o comportamento de mergulho do tubarão azul por telemetria de satélite durante vários meses, nós conseguimos observar mudanças no seu comportamento com maior permanência à superfície, como forma de evitar águas profundas com défice de oxigénio”, revelou o David Sims da MBA e da Universidade de Southampton, que co-liderou o estudo.
Paralelamente, os cientistas rastrearam por GPS navios de palangre de superfície para explorar o efeito destas alterações no comportamento dos tubarões para águas de superfície (compressão de habitat) nas suas capturas em áreas de ZOM. A investigadora Marisa Vedor da Universidade do Porto e de Lisboa, primeira autora do artigo, revelou terem descoberto que "a ZOM ocidental Africana é uma área de pesca intensiva de palangre, com maiores capturas de tubarão azul, muito provavelmente devido à compressão de habitat em águas superficiais”. Compressão esta que, segundo Nuno Queiroz do CIBIO/InBIO, Universidade do Porto, co-líder do estudo, "em tubarões azuis torna a sua captura potencialmente mais fácil, e deverá aumentar no futuro se a expansão das ZOM continuar”.
O tubarão azul é uma espécie comercialmente importante devido sobretudo às suas barbatanas. Esta espécie perfaz ± 90% do total das capturas reportadas no Atlântico e, no entanto, está classificada como “Quase Ameaçada” pela IUCN, tendo poucas restrições à sua captura a nível mundial. “Os nossos resultados defendem a necessidade de medidas de gestão para mitigar os efeitos da desoxigenação dos oceanos nas capturas de tubarões, que são aparentemente substanciais acima de águas profundas pouco oxigenadas” explica David Sims. “Áreas marinhas protegidas circundantes de zonas de oxigénio mínimo podem ser necessárias para garantir a proteção de tubarões no futuro com a contínua desoxigenação dos oceanos”.
O presente trabalho foi co-financiado pela FCT (Portugal) e fará parte de um projeto mais alargado financiado pela European Research Council (ERC) atribuído ao Professor David Sims e que conta com a participação do CIBIO. O projeto de 5 anos, com o título OCEAN DEOXYFISH, irá continuar a providenciar uma visão crucial sobre os efeitos da desoxigenação dos oceanos em predadores de topo como os tubarões e atuns.