O investigador do MARE Vasco Vieira e autor do estudo “Seagrass space occupation efficiency is key for their role as ecosystem engineers and ecological indicators”, falou com a Greensavers sobre a capacidade das pradarias marinhas utilizarem nutrientes de origem humana.
As pradarias marinhas são ecossistemas encontrados nas zonas costeiras, lagoas, rias e estuários, formadas por ervas marinhas altamente produtivas. Para além de servirem de refúgio a muitos animais, estes ecossistemas fornecem serviços como o sequestro de carbono atmosférico e a purificação da água.
Tal como as outras plantas, as ervas marinhas servem-se dos nutrientes presentes na água e da disponibilidade de luz, para poderem crescer e disseminar. O investigador Vasco Vieira, descobriu que a presença de nutrientes de oriegem humana em concentrações moderadas, beneficia o crescimento das pradarias marinhas. O investigador do MARE que estudou pradarias marinhas do Brasil, Costa Rica, Reino Unido e de Portugal, concluiu que "em condições prístinas", ou seja, sem efluentes de origem humana, "o crescimento das ervas marinhas está limitado pela escassez de nutrientes".
No entanto, o investigador salienta que é importante não se ultrapassar o limite de toxicidade, o qual promove a proliferação de algas que impedem a penetração da luz solar, provocando a morte das pradarias.
Muitos destes nutrientes provêm das ETARs, que ao realizarem o tratamento das águas residuais antes de as libertarem de volta nos ecossistemas, reduzem bastante os efeitos negativos nestes ambientes. Com estas novas conclusões do estudo liderado pelo investigador do MARE será possível “conciliar as pradarias de ervas marinhas com o tratamento da água”.
Segundo Vasco Vieira, "isto significa que não precisamos de estar a impor às ETAR que mandem a água 100% limpa de nutrientes, porque as próprias pradarias de ervas marinhas podem fazer a remoção desse excesso de nutrientes, e de uma maneira natural”.
Esta nova estratégia trará benefícios não só para o ecossistema, ao fornecer-lhe nutrientes, como a nível da própria ETAR que levará menos tempo a tratar da água, consumindo menos energia e diminuindo a sua pegada carbónica.
Para além disto, os investigadores verificaram uma maior abundância de invertebrados no rio Tejo, o que lhes permitiu concluir que "as ervas marinhas no Tejo estão a beneficiar das descargas de nutrientes, seja por o rio vir com mais água doce no seu caudal que traz nutrientes ao longo do seu curso, seja dos que vêm dos efluentes agrícolas”, seja das descargas das ETAR ou da indústria alimentar, explica.
Apesar da enorme importância destes ecossistemas, as pradarias marinhas estão altamente ameaçadas em todo o mundo e Portugal não é exceção. No rio Tejo este ecossistema encontra-se fragmentada devido à pesca de bivalves por arrasto, o que é altamente destrutivo para estas plantas. “No Tejo estão em declínio, mas não é por causa dos nutrientes. É por causa do mariscador clandestino”, declara Vasco Vieira.
Para o investigador a solução passa pela proibição desta atividade não regulada, promovendo práticas como a aquacultura e o desenvolvimento de armadilhas próprias para o marisco que não danifiquem as pradarias marinhas. Contudo, admite que isso poderá ser “irrealista” e diz que se trata de “um problema de coexistência” entre mariscadores não regulados e a conservação das pradarias marinhas, pelo que a solução passará pelos decisores políticos.
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