Zara Teixeira destaca a importância das salinas no podcast “Palavrões de Ciência”

A investigadora do MARE Zara Teixeira foi a mais recente convidada do podcast “Palavrões da Ciência”. Em conversa com o escritor e tradutor Marco Mendes e com a especialista em comunicação Cristina Soares, a investigadora do MARE definiu alguns “palavrões”, como halófitas, marnoto e mota. 

O que é uma salina? É a esta pergunta que Zara Teixeira começa por responder: “As salinas tradicionais, que é onde eu trabalho, são salinas ao ar livre formadas por vários compartimentos. Cada compartimento tem uma profundidade diferente, (que) vai reduzindo e nestas salinas tradicionais, à medida que a profundidade dos compartimentos vai reduzindo, a água vai passando, vai aumentando o seu gradiente de sal, até que nos últimos compartimentos, que são os compartimentos de cristalização, temos o sal”. A investigadora do MARE estuda os ambientes costeiros das salinas e seu património histórico, cultural e ambiental, ressaltando a importância dessas salinas, inclusive, para a nossa alimentação.

Embora grande parte do sal consumido tenha origem marinha, a investigadora destaca que ele é refinado, o que resulta na perda de outros minerais presentes na água do mar, como magnésio. Este sal acaba por ser mais pobre para a alimentação humana. “Para a nossa saúde, como tem só cloreto de sódio, as quantidades que nós utilizamos na cozinha são normalmente exageradas, e é que está o problema”. A recomendação é consumir sal com moderação e preferir opções de qualidade, como o sal marinho grosso, a flor de sal e as plantas halófitas, adaptadas a ambientes de grandes salinidades capazes de incorporar o sal.

Para além do sal, estas plantas têm a capacidade de incorporar o chamado Carbono Azul, o carbono atmosférico que é armazenado por organismos marinhos. “Tentamos contribuir para a conservação de macroalgas, microalgas e estas plantas halófitas precisamente porque elas têm essa capacidade de capturar, e mais do que capturar, de armazenar durante muito tempo o carbono que nós sabemos agora está em excesso na atmosfera”, afirma Zara Teixeira, referindo que este é um dos serviços fornecidos pelos ecossistemas marinhos, que podem fazer parte da solução para as alterações climáticas.

Outro benefício das plantas halófitas é a sua capacidade de absorver a força da água. “Em situações de tempestades elas evitam que as inundações nas cidades sejam tão fortes, ou podem mesmo evitar uma inundação, porque podem reter a água”, começa por explicar a investigadora do MARE. “No caso das salinas em particular, as salinas elas têm umas paredes à volta, a que nós chamamos de motas. Como elas são relativamente altas, também nos protegem do avanço do mar, mesmo em casos de subida de nível médio do mar. Este é mais um serviço e mais um dos motivos por que nós queremos também contribuir para ajudar a não deixar desaparecer esta atividade”.

Para além da sua importância ambiental, a de produção de sal em salinas tradicionais, tem também uma vertente cultural e histórica extremamente rica, possuindo inclusivamente terminologias próprias como marnoto, rés ou cilha. Por esta razão, a investigadora Zara Teixeira trabalha para não deixar esta arte desaparecer.

Para isto, a investigadora está a desenvolver um Laboratório Vivo relacionado com as salinas, ou seja, “uma comunidade de pessoas que pensa e testa inovação, neste caso inovação na área do sal, na área da produção do sal, ou até mesmo turismo relacionado com a área do sal.”

“Qualquer atividade, qualquer inovação que possa estar relacionada com estes ambientes, eu quero ter uma comunidade que possa trabalhar em conjunto, ter ideias, ter investigadores que possam arranjar as soluções, testar as soluções e implementar as soluções”, conclui a investigadora.

 

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